sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), Delmino Pereira, justificou a obrigatoriedade de as equipas de ciclismo portuguesas terem 60% do plantel abaixo dos 28 anos com a necessidade de renovar o pelotão nacional para atrair novos patrocinadores. 

"Queremos que Portugal seja um país em que a tendência seja de um pelotão mais jovem e não o contrário. É esta a filosofia e a lógica das equipas continentais em todo o mundo. Em Espanha e noutros países, essa regra é muito mais acentuada e agressiva e, por isso, fizemos um ajustamento, porque queremos que o nosso pelotão seja tendencialmente mais jovem. Foi um acerto, não é nada extraordinário", explicou à agência Lusa o presidente da FPC.

Delmino Pereira respondia assim à preocupação expressada por vários ciclistas e diretores desportivos nos últimos dias, depois de tomarem conhecimento da normativa, aprovada a 17 de setembro, que estipula que, em 2016, o plantel de cada uma das equipas profissionais portuguesas terá de ter 60% de ciclistas com menos de 28 anos, uma cláusula que agrava a que esteve em vigor esta temporada - metade do plantel teria de ser sub-28. 

"É uma alteração que não é significativa, que é muito ajustada e está aqui a tentar equilibrar todos os interesses. Acho que vem valorizar o ciclismo português aos olhos do mundo. Nós queremos um ciclismo mais dinâmico. Este é um pequeno sinal que se dá para inverter uma espiral recessiva, porque a circunstância atual tem vindo a acentuar as dificuldades. Não é só uma questão conjuntural ou económica, é uma questão de uma filosofia que está desatualizada e não inspira os patrocinadores a investir. Obviamente que, sentindo que é uma modalidade que fomenta a juventude, estou convencido que outras marcas se poderão associar ao ciclismo", defendeu. 

Questionado sobre se a nova regra poderá provocar uma vaga de despedimentos no pelotão nacional, o presidente da FPC afastou esse cenário.

"Fizemos cálculos quanto ao número de pessoas que podiam deixar de correr e não é significativo. É mais significativo a quantidade de corredores que anualmente abandona o ciclismo sem ter tido ao longo da sua vida uma única oportunidade", disse.

Delmino Pereira desdramatizou o impacto da nova norma e voltou a frisar que a mudança de paradigma é o único caminho para o ciclismo luso. 

"Não quero que a regra seja corredores antigos, em final de carreira, no nosso pelotão. A regra é ciclistas novos, com dinâmica, em evolução. E depois, quando possível, colocar corredores, mais maduros, mais experientes, que também têm o seu espaço e são importantes para o desenvolvimento do nosso ciclismo. Mas não deverão ser esses a maioria", acrescentou. 

A maioria de que o responsável máximo do ciclismo nacional fala é expressa nos números da última Volta a Portugal: apenas três sub-28 entraram no top10 - Jóni Brandão (2.º), António Carvalho (6.º) e Amaro Antunes (10.º) -, com Frederico Figueiredo (14.º) a ser o único outro representante dos menores de 28 das formações nacionais no top20. 

"Esse dado não é positivo para o prestígio do ciclismo português no resto do mundo", considerou, elucidando que "se houve necessidade de escrever este regulamento é porque não é bem esse o interesse das equipas". 

O responsável federativo considera que há corredores de qualidade em Portugal para que a nova medida seja implementada com sucesso.

"Mas também acho que o mundo do ciclismo tem muitos ciclistas - não precisam de ser todos portugueses - que são interessantes e que facilmente poderão resolver esse problema. O problema é a falta de oportunidades. Há muitos jovens que poderemos ir buscar", concluiu.

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